Ele não sabe como acabou cuidando daquela senhora naquele casarão antigo. Nem porque descia aquelas escadas empoeiradas anoite preocupado em não fazer barulho, a velha não dormia e mesmo da cozinha ele conseguia ouvi-la conversando alto sozinha. Horas gritando brava, outras rindo e comentando baixo alguma coisa. Ele pára em qualquer lugar perto do fogão sujo e a geladeira desligada, levanta a mão como que se fosse acender a luz no interruptor e esfrega o rosto. Um alívio instantâneo enquanto suspira. A gritaria escada acima parou e ele nem tinha percebido. Pela claridade da janela, olha a palma da mão direita e os olhos passeiam nos dedos como em teclas de um piano.
Lembra de antes. sorrisos e luzes. Uma moça na sua lembrança quando trouxe o caderno amarelo. Na sua infância vira um caderno desses. Depois de tantos anos com a moça, ela sumiu da vida. Some a lembrança.
Ele vê a velha através da janela da cozinha. Ela está agora lá fora, no matagal do quintal, o encarando de olhos arregalados, babando e fazendo careta infantil. O estrondo da porta aberta pela ventania causa um choque na nuca. Ele olha para janela novamente, a velha nao está mais la. Ele sente o maxilar inferior sendo atraído em direção do seu peito por mais que tentasse erguer a cabeça involuntariamente. Ventania forte novamente, a porta se fecha.
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